Uma conversa por WhatsApp, a qual o Fantástico e o g1 tiveram acesso com exclusividade, revela o planejamento dos jovens Eduardo Vasconcelos, de 19 anos, e Pedro Henrique dos Santos Vasconcelos, de 18 anos, para assaltar a casa dos pais da influenciadora Bruna Biancardi, em Cotia, Grande São Paulo, na última terça-feira (7).
Bruna tem uma filha com o jogador Neymar, mas as duas não estavam no imóvel durante o assalto.
No diálogo, os dois comentam sobre a oportunidade de conseguirem dinheiro na casa pelo fato dos moradores serem “sogros do Neymar” e pela “falta de energia” após forte chuva (veja mais abaixo).
Eduardo e Pedro Henrique são apontados pela polícia como participantes do crime junto com um terceiro suspeito, ainda não identificado, mas que é conhecido como “Europa”.
Eduardo foi preso horas após o crime, teve prisão preventiva decretada e confessou a participação no assalto. Ele tem passagem por tráfico de drogas e morava havia ao menos uma semana na casa da mãe e do padrasto.
Já Pedro Henrique, conhecido como “Urso”, não tem passagens por crimes e teve a prisão temporária decretada pela Justiça. Até a última atualização da reportagem, ele era considerado foragido.
O plano

Segundo a polícia, as evidências apontam que a falta de energia na região por conta do temporal do dia 3 de novembro teria sido vista como uma “oportunidade”.
“A falta de energia elétrica, sem sombra de dúvidas, foi algo que colaborou, que favoreceu. Foi uma circunstância facilitadora para o crime. Iria acontecer mesmo se não houvesse apagão? Acredito que sim. A gente já tem provas, elementos nesse sentido, de que o crime já vinha sendo planejado. Já vinha sendo premeditado”, comentou com o g1 e o Fantástico a delegada responsável pelo caso, Mônica Gamboa.
“Já existia diálogo entre Eduardo e Pedro, do tipo: ‘aí, mano, você continua sendo vizinho da sogra da mina do Neymar? Algo nesse sentido eles já falavam”, diz a delegada.
A conversa no celular mostra que Eduardo e Pedro trocaram mensagens horas antes do crime e comentaram sobre uma arma e “aproveitar” que o local estaria supostamente sem câmera de segurança.
“Teve uma intenção na família. Isso está latente. Isso a gente não tem dúvidas. O próprio indiciado Eduardo fala que quando eles planejam o assalto, eles têm em mente a casa da família Biancardi Ribeiro, pelo fato da Bruna ter um envolvimento com o jogador Neymar”, diz a delegada.
“Isso é dito pelo próprio indiciado. Ele fala: ‘nós planejamos lá porque a gente sabia que lá a certeza de captar objetos de valor, de encontrar eventualmente dinheiro, era uma probabilidade maior do que qualquer uma das outras casas”.
Mensagens
Durante a conversa pelo celular, Eduardo comentou com Pedro que “agora tinha liberação”, se referindo ao acesso ao condomínio, já que havia se mudado para o local.
Até as 18h30 do dia 6 de novembro, o plano não incluía o terceiro assaltante. Pedro afirmou: “Eu e você só, vou levar o 38”, referindo-se a uma arma. “Já era, tamo rico”, respondeu Eduardo.

A dupla falou sobre a repercussão do assalto: “Vai sair até na tela: mulher do Neymar”, disse Eduardo. “Lógico que vai, vamos deixar tudo revirado”, respondeu Pedro.
Os dois citam até ter ideia do que possam encontrar na casa: “Direto para o closet, entendeu? E quarto da mãe e do pai. Pegar os rolex”. Eduardo complementa: “Roubar e ficar andando pelo condo ainda. Fumando um.”
Quase quatro horas depois, por volta das 22h30, Eduardo manda as últimas mensagens antes do crime: “Sem luz lá ainda. Lá é nosso”.


Invasão
Os três assaltantes usavam capuzes e a casa estava no escuro por causa da falta de luz. Dois deles, armados, tiraram Telma do quarto, enquanto o outro ficou com Edson e disse que “se colaborassem, tudo ficaria bem.”
Telma teria mostrado que o cofre estava aberto e vazio, e os ladrões diziam saber que eles eram sogros do Neymar e que tinham dinheiro.
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Dois identificados pelo assalto aos pais de Bruna Biancardi — Foto: Reprodução
No momento de maior tensão, os bandidos ameaçaram jogar óleo fervendo em Telma, mas acabaram amarrando o casal com cadarços de calçados.
Toda a ação levou de 20 a 25 minutos e os três saíram levando dezenas de itens entre bolsas de grife, relógios e joias, incluindo alianças. Quando conseguiu se soltar, Edson libertou a esposa e acionou a segurança do condomínio, que chamou a guarda municipal.

Prisão
Sandro Saldanha, um dos dois guardas civis que atenderam a ocorrência, afirmou que a equipe foi chamada ao local e fez buscas acreditando que os suspeitos poderiam ainda estar no condomínio.
Saldanha conta que foi até a guarita, onde viu nas câmeras de segurança. Nas imagens foi possível ver que Eduardo entrou e saiu ao menos quatro vezes aquela noite e aparentava nervosismo no vídeo.
“O condutor estava nervoso, estava roendo as unhas, não conseguia passar a sua digital e o outro que estava ao lado dele também estava nervoso.”
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Eduardo estava dirigindo o carro do padrasto, com Pedro no banco de passageiro. Os dois não sabiam, mas mesmo com a falta de luz as câmeras da portaria estavam funcionando.
Ainda de madrugada, os agentes da Guarda Civil reconheceram o homem que aparecia no vídeo saindo a pé do condomínio.
“Indaguei se ele sabia o motivo dele estar sendo abordado. Ele falou assim: ‘eu sei, senhor, eu sei porque eu participei do roubo. É no interior de uma residência no condomínio.'”
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Câmera de segurança registrou criminosos que assaltaram casa em condomínio em carro prata — Foto: Reprodução
O flagrante na portaria do próprio condomínio não foi uma novidade para Eduardo. O Fantástico e o g1 apuraram que dois anos atrás, quando ainda era menor de idade, ele já havia sido acusado de participar de roubos a outros vizinhos, também em busca de dinheiro e jóias.
Na ocasião, ele e mais quatro pessoas teriam arrombado duas casas. Na saída, teve o rosto registrado pela mesma câmera.
Uma das vítimas à época encontrou a casa revirada quando chegou do trabalho. Uma arma foi levada. A identidade dele foi decoberta por vestígios no local do crime. O caso de 2021 ainda está na fase de inquérito policial.
Depois do episódio de 2021, Eduardo deixou o condomínio. Em 2022, foi preso em Avaré, no interior de São Paulo, por tráfico de drogas. Passou seis meses na prisão.
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Carro usado por criminosos que invadiram casa dos pais de Bruna Biancardi — Foto: Arquivo Pessoal
Marcos Barbosa, responsável pela defesa de Eduardo, comentou sobre a participação dele no crime.
“Ele afirma no sentido de que houve influência, ele foi influenciado, é o que ele alega. Não tô falando que ele é anjo, mas que existe uma influência externa. Os familiares estão em choque, inclusive a um pedido de desculpa dos familiares por tudo que foi causado.
Os pais de Bruna Biancardi não quiseram dar entrevista, mas em nota ao Fantástico destacaram a indignação por sofrerem o assalto dentro do condomínio em que moram há mais de vinte anos.