Viver o sonho americano é o desejo de muitos brasileiros que veem nos Estados Unidos um ideal de estilo de vida. Para o jornalista Maurício Dalepiane, 35, esse isso se tornou realidade.
A vontade de ir para o país norte-americano surgiu ainda na infância, foi alimentado ao longo do tempo e, finalmente, culminou em sua saída do Brasil no final do ano passado. Embora já tenha viajado anteriormente para conhecer outros países, a intenção desta vez era de se estabelecer no exterior e estudar inglês.
Apesar de ter nascido em Cruz Alta (RS), ele se considera cuiabano “pau rodado”, ou seja, aqueles que se apaixonaram por Cuiabá e se consideram cuiabanos de coração.
Foi na capital mato-grossense que Maurício estudou, se formou em Jornalismo e trabalhou anos na área. Construiu sua história, consolidou a carreira, foi assessor de diversos políticos em vários municípios do norte do estado e até de deputada federal.
Contudo, se viu consumido pela rotina do trabalho e resolveu que havia chegado a hora de mudar de ares e colocar em prática aquele sonho antigo, indo em busca da mudança em outubro de 2023.
Com o apoio de uma amiga brasileira, nascida em Santo Antônio do Leverger, mas que mora nos EUA há 15 anos, Maurício conseguiu se estabelecer em Hingham, no estado de Massachusetts, para morar e estudar o idioma.
“Era um sonho de criança morar nos Estados Unidos e conhecer a neve. Aqui as estações são bem definidas, no inverno tem neve, verão tem o calor e as praias, é super badalado. Gosto de mudar, então morar aqui vai ser mais um desafio na vida”, conta entusiasmado.
Adaptação na nova realidade
Além da temperatura, dentre os vários choques culturais que passou desde que colocou os pés na terra do “Tio Sam” ele pontua o sotaque do idioma em si, que considera bem diferente do que se estuda no Brasil na escola; a arquitetura das casas e espaços públicos, muito semelhante a dos filmes que cresceu assistindo; e o principal: não há cachorros caramelo nas ruas, mas muitos esquilos.
O brasileiro conta que lá a cultura do consumismo exagerado é real, e acredita que isso acontece porque os itens são muito baratos. Fato que estimula a compra, desde pequenas futilidades até coisas maiores como móveis e veículos.
Em contrapartida, vê muitos bazares e doações em frente às casas. “Aqui o povo compra muita coisa. Então, você passa nas ruas e tem móveis para doação, eles doam muito as coisas. […] Colocam na frente de casa, sofá, geladeira, cama, mesa, computador. Você passa e pode levar, senão eles pagam imposto para recolher o lixo, então é melhor doar”, explica.
Em Hingham, os programas de passeio são os clássicos: boliche, patinação no gelo e a praia. “Às vezes parece que estou numa série americana, num filme americano, tudo muito diferente”, afirma.
Mesmo distante mais de 5 mil quilômetros do país de origem, o jornalista narra que encontra muitos brasileiros em Massachusetts e quando bate aquela saudade de casa frequenta restaurantes brasileiros abertos pelos conterrâneos, dos quais muitos são mineiros.
Questionado sobre o que mais sente saudade em Cuiabá, Maurício é categórico e não pensa duas vezes: “Sinto muita saudade do peixe, do São Gonçalo Beira Rio. Aqui não tem muito peixe. É mais fast food, muito lanche, MC Donald’s, Dunkin’ Donuts, mas nada se compara ao baguncinha. Quando tenho saudades, vou ao restaurante brasileiro, comer arroz, feijão, picanha”, diz.
Além do pescado, Maurício sente falta da cervejinha gelada, pois afirma que na região os americanos bebem mais whisky e vodka para se esquentar devido ao frio.
“Faz falta a parte dos bares, restaurantes, Praça Popular, sair, conversar com amigos, ir ao Parque das Águas, dar uma caminhada. Aqui as ruas são muito frias, então tudo fecha meia-noite, fica vazio. As pessoas se reúnem mais em casa. Dizem que no verão melhora, mas o calor cuiabano tenho muita saudade”, conta.
Apesar dos poucos meses no país, já conseguiu formar uma rede de apoio e está no nível básico de conversação e oratória em seus estudos, onde frequenta uma escola de idiomas à noite. Já durante o dia, para se manter no país, tem feito “bicos” na rede de fast food Mc Donald’s e fica na janela do drive thru onde faz a entrega dos lanches. Eles não se arrepende da decisão.
“Eu tinha uma carreira consolidada, era assessor de comunicação de uma deputada federal, tinha salário bom, emprego bom, assessorei prefeito, vereador, fui subindo, cheguei em Brasília, mas às vezes trabalho não é tudo. Você não está feliz com o que está fazendo, e no Mc Donald ‘s você se sente mais feliz que no meio político. Então, a realização de um sonho vale mais que qualquer coisa”, ressalta.
Planos para o futuro
No pouco tempo em que está nos Estados Unidos só pôde conhecer Boston, em Massachusetts, mas já tem sua lista de destinos no roteiro e pretende ainda conhecer a capital Washington, Nova York, a Disney e o estado do Texas.
Sobre a saudade da família, afirma que sente, porém, já estava acostumado a morar sozinho mesmo antes da mudança, e diz que conversa todo dia com a mãe via WhatsApp e também com o irmão e o pai, que inclusive pretendem ir no próximo ano visitá-lo e morar também nos Estados Unidos.
Maurício manda um recado para quem sonha em mudar de país: “É importante que as pessoas que desejam vir para cá saibam que elas não vão ficar ricas. Tem que vir com metas para estudar, aprender inglês, ter mais qualidade de vida, e a vida é muito curta, se tiver um sonho tem que correr atrás mesmo”, incentiva.