O professor e analista político Alfredo da Mota Menezes avalia que o governador Mauro Mendes (União Brasil) é favorito na eleição de outubro, apesar do surgimento da candidatura da primeira-dama de Cuiabá, Marcia Pinheiro (PV).
Ele considera ainda que mesmo não sendo favorita, Marcia precisa ter uma votação razoável para que o desempenho não respingue no prefeito Emanuel Pinheiro (MDB), o grande fiador de sua candidatura, e no filho Emanuelzinho (MDB), que tenta a reeleição na Câmara Federal.
“Uma votação pífia da Márcia pode respingar, sim, no Emanuel e talvez do filho. Mas ninguém sabe medir qual tamanho será isso”, disse o analista ao MidiaNews.
Menezes ainda fez análises sobre o Governo de Mendes, as eleições ao Senado, o governo Bolsonaro e a tentativa de Lula voltar ao Palácio do Planalto.
Confira os principais trechos da entrevista:
MidiaNews- Como o senhor analisa o cenário eleitoral em Mato Grosso após as convenções?
Alfredo da Mota Menezes – Nas últimas dez eleições, afunilaram em dois nomes. No caso, agora, é Mauro Mendes para a reeleição e Márcia Pinheiro, que se apresenta. Não sei o tamanho eleitoral da Márcia Pinheiro. A tendência é afunilar a disputa entre os dois.
O grupo do Mauro acredita que leva a eleição no primeiro turno. Porque é o seguinte: uma campanha em dois meses, uma pessoa que não é conhecida, em um Estado grande, como se fazer conhecer em período tão curto? Para ela vai ser uma correria enorme se mostrar no Estado.
Claro, que existe o horário gratuito de TV e rádio, mas é o suficiente? Porque o outro lado também terá esse tempo de TV. A dificuldade da Márcia é ela se mostrar e ter capilaridade eleitoral em tão pouco tempo.
MidiaNews – E Mato Grosso tem dimensão continental…
Alfredo da Mota Menezes – Isso. Em quatro anos, o Mauro viajou muito e no Governo dele teve 15% do orçamento para investir, o que não havia acontecido nos governos Blairo, Silval e Taques. Então, o governador acabou espalhando esse recurso pelo Estado e ajudou as prefeituras.
O governador fala que tem apoio de 140 prefeitos, mas digamos que não seja isso tudo isso, ter a maioria dos prefeitos com ele é um número incrível para eleição sem dúvida nenhuma. A candidata Márcia vai ter que correr muito para tirar essa vantagem que Mendes colocou nesses quatro anos.
MidiaNews – O senhor já entrevistou a Márcia Pinheiro. Como analisa o discurso dela?
Alfredo da Mota Menezes – Acredito que a equipe dela deve estar montando um programa mínimo de Governo, para que ela possa enfrentar debates e novas entrevistas.
MidiaNews – Ela já sinalizou que defende o fortalecimento do funcionalismo público, que em tese seria o ponto fraco do Mendes. É uma boa estratégia?
Alfredo Mota Menezes – Servidor público merece respeito, sem dúvida nenhuma, mas não elege ou deixa de eleger na história de Mato Grosso qualquer governador. O prefeito da Capital [Emanuel Pinheiro], tem influencia, mas não chega a eleger também.
E eu não acredito que todo funcionalismo vá contra o Mauro, mas uma parcela, sim. Mas tentar ganhar uma eleição em cima disso, é um mundo pequeno. Tem muito mais coisas para se observar do que isso daí.
MidiaNews – Qual será o elemento fundamental para estas eleições?
Alfredo da Mota Menezes – O momento. O que quero dizer com momento? Se o Mauro tem um discurso do momento, de que faz algo pela logística, algo para oagronegócio… Me entende? É preciso um discurso do momento.
MidiaNews – E esse discurso também seria propor melhorias para as crises que vivemos no pós-pandemia?
Alfredo da Mota Menezes – O discurso já passou disso. O discurso é de investimento, de criar agroindústria, de conviver com meio ambiente, de produzir. De como vender mais produtos no exterior, como ter um contato maior com outros países…
Esse é o discurso. Desse novo Mato Grosso. Porque se Mato Grosso cresce, gera emprego e gera imposto, pode se investir em outros setores.
MidiaNews – E o ex-presidente Lula, vai proporcionar “ganhos eleitorais” para Marcia?
Alfredo da Mota Menezes – Poder, pode. Mas eu me pergunto: Será que a esquerda raiz vai abraçar essa candidatura? Eu sinto que gente do PT gostaria de ter alguém do partido disputando o Governo.
MidiaNews – Como o senhor viu a debandada do senador Carlos Fávaro e do candidato ao Senado Neri Geller para o lado do Lula e de Emanuel Pinheiro?
Alfredo da Mota Menezes – Eles ficaram sem alternativa quando o Mauro, que apoia o Bolsonaro, anunciou apoio ao Wellington Fagundes. O Neri buscou o caminho dele, virou à esquerda, que não é campo ideológico dele e do Fávaro.
Mas vejo isso como a única alternativa que eles encontraram para tentar fazer um enfrentamento maior à candidatura do Wellington.
MidiaNews – Mas essa aproximação convencerá o eleitor?
Alfredo da Mota Menezes – E se ocorrer o seguinte: o eleitor que vota no Lula, apoia fulano para o Senado? Pode levar voto. E o Neri viu a oportunidade aí.
MidiaNews – E sobre essa pecha de traidor dos dois?
Alfredo da Mota Menezes – O Fávaro não é candidato, mas vai coordenar a campanha do Lula. A disputa mesmo vai ser Wellington e Neri. Como vai ser isso? O agro vai votar com Neri e Fávaro, tendo Lula ao lado, ou com Mauro e Wellington? O Senado será a disputa mais interessante do Estado, mas que a de governador.
MidiaNews – Ainda sobre o Senado, qual candidato deve “herdar” a intenção de votos da médica Natasha Slhessarenko, que foi forçada a desistir da disputa?
Alfredo da Mota Menezes – Eu estou há dias me perguntando sobre isso também. E louco para ver a próxima pesquisa. Não há nada claro. A Natasha teve uma pré-candidatura muito rápida e não deu para gente detectar quem são os eleitores da Natasha, e em qual perfil eles se encaixam.
MidiaNews – Com a desistência da Natasha, o PSB de Geraldo Alckmin, vai compor a segunda-suplência ao Senado na chapa do Wellington Fagundes, do partido do Bolsonaro. Isso pode ampliar ou “matar” os votos de Wellington?
Alfredo da Mota Menezes – Amplia. O Partido Socialista Brasileiro põe o pé na canoa, em tese, na esquerda e tira votos de lá. E não deixar só para o Neri esse espaço. Acho que essa é a intenção do Wellington.
MidiaNews – Mas não pode ganhar a alcunha de “candidato melancia”?
Alfredo da Mota Menezes – A política brasileira é assim. Outro dia um parlamentar estadual disse: “Meu partido é democrático”. E quando ele disse isso, quis dizer que o partido deixou o filiado votar em quem quiser. Como? O que o partido definir você tem que ir com ele. É por isso que a política brasileira é ruim, por causa dessa balburdia partidária.
MidiaNews – Voltando ao cenário estadual, o senhor acredita que a Márcia representa algum risco para a reeleição de Mendes, que está com o presidente Jair Bolsonaro?
Alfredo da Mota Menezes – Acredito, sinceramente, que o Mauro tem uma enorme chance de se reeleger. E a tendência maior é para o Mauro, porque com a sobra de recursos, ele viajando, ajudando as prefeituras, fazendo obras… Chegam a falar que quase a totalidade dos prefeitos estariam junto com ele. Como fazer para Márcia reverter isso no meio do caminho?
Eu fiz um levantamento: de 1982 até 2018, das eleições para Governo são 10 eleições.
Há sempre uma diferença percentual grande de quem ganhou as eleições, exceto a de 82, em que Júlio Campos venceu por 51% a 48%, do Padre Pombo. Na última eleição, o Mauro ganhou na primeira com 58,6% contra 19,5% do Wellington Fagundes e 19% do Pedro Taques.
MidiaNews – O eleitor mato-grossense é decidido?
Alfredo da Mota Menezes – Isso. E eu não acredito que em dois meses possa ter algo tão extraordinário no meio do caminho que possa mudar o cenário, que hoje é pró reeleição do Mauro Mendes.
MidiaNews – Essas operações policiais contra o prefeito Emanuel Pinheiro, os secretários afastados e o caso “paletó”, podem respingar na imagem da Marcia Pinheiro?
Alfredo da Mota Menezes – Pode ser usado. Como também, o outro lado pode fazer o seguinte: deixa isso quieto, se vier outra coisa de lá para cá, desperta isso. E, aí, jogam na TV, na campanha feita no Estado e pode ter, sim, repercussão negativa.
MidiaNews – O prefeito Emanuel assumiu a coordenação da campanha da Márcia. A deputada Janaina Riva afirmou que a estratégia é um tiro no pé e que “Emanuel Pinheiro é o maior cabo eleitoral do Mauro Mendes”. Acredita que possa ter sido um erro estratégico?
Alfredo da Mota Menezes – Ele sai para coordenação da esposa, mas também trabalha duro para eleição do filho. A esposa saindo candidata, indiretamente, ajuda o Emanuelzinho.
Eu só achei que o Emanuel saiu muito tempo antes. Dois meses é muito tempo. Saísse um mês antes da eleição. Agora, dois meses ficar fora da Prefeitura é complicado.
MidiaNews – O senhor acredita que esta campanha será limpa?
Alfredo da Mota Menezes – É difícil dizer. Todos os lados dizem que será uma campanha limpa, mas no meio do caminho a coisa pipoca. É difícil, eu duvido que alguém tenha essa bola de cristal de dizer: vai ser limpa.
MidiaNews – Acredita que o Emanuel pode sair enfraquecido da disputa e frustrar um eventual projeto para o Governo do Estado em 2026, caso a Márcia tenha um votação abaixo do esperado?
Alfredo da Mota Menezes – A Márcia, claro, vai entrar para ganhar a eleição, apesar de ser difícil. E é por isso que falo que é muito tempo na coordenação. Ele tem uma vantagem: reelege o filho para deputado federal.
Mas no caso da Márcia, já aconteceu em Mato Grosso, por exemplo, na disputa testa a testa, entre Jayme Campos e Agripino Bonilha Filho, o Bonilha teve 14%. Muito fraco.
Politicamente até recuou da vida política. É preciso que a candidata Márcia tenha o mínimo, para que não machuque o Emanuel futuramente.
Uma votação pífia da Márcia pode respingar, sim, no Emanuel – e talvez do filho. Mas ninguém sabe medir qual tamanho será isso. Além disso, o Emanuel fica na Prefeitura até 2024 e, pensando em 2026, tem muito tempo para se recompor. Claro que falamos em termos hipotéticos.
MidiaNews – O ex-governador Blairo Maggi, em entrevista à imprensa, disse que o segundo mandato é “um fardo”. Quais serão os desafios do governador Mauro Mendes, caso ele vença?
Alfredo da Mota Menezes – Na época do Blairo não tinha a quantidade de dinheiro “sobrando” para investimento. É possível acreditar que no segundo mandato terá de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões para investir.
Então, se você tem alguém no governo que paga todos os salários, dividas e tendo essa quantidade de dinheiro de investir no Estado, não acredito em segundo mandato pior que o primeiro.
Não existe essa regra escrita em algum lugar, em especial se tiver recurso. E está mostrado que tem. E se tem dinheiro para investir, pode sair um bom governo tanto quanto num primeiro mandato.
MidiaNews – Como o senhro avalia a gestão Mendes?
Alfredo da Mota Menezes – As pesquisas de opinião mostram que foi um governo positivo. Um governo de investimento, que conseguiu levar recurso para as prefeituras, porque os prefeitos estão contentes.
Ele fez mais de 2 mil quilômetros de asfalto, tem na área educacional um projeto que eu gostaria de ver o resultado. Se Mato Grosso subir no Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] e na questão dos seis hospitais, o Mauro sai melhor, porque não será só essa questão de estradas. Porque a Saúde e a Educação saem na ponta realmente.
MidiaNews – Em sua análise, qual deve o “mote” de campanha dele? Prestação de contas? Essa campanha terá caráter plebiscitário?
Alfredo da Mota Menezes – Eu acredito que vai falar muito do que ele fez até agora, porque ele levou recursos para muitas localidades. Ele vai em cima disso: falando das realizações, que não houve escândalos no Governo.
E os outros candidatos vão atacar o Governo dele, cada um no seu canto, ringue e estilo. Não se vê e não se percebe que os outros candidatos atirem um no outro, mas direcionarão o tiroteio àquele que está no Governo. E tende a tentar polemizar um pouco mais a Marcia Pinheiro.
MidiaNews – Mato Grosso é um dos estados em que Bolsonaro mantém a liderança das pesquisas. Ele vencerá aqui?
Alfredo da Mota Menezes – Ele tem uma vantagem no agronegócio. Porque tem aquela história de que se você tem uma terra, o MST pode invadi-la, e com a esquerda, em tese, isso poderia ocorrer.
O PT, por exemplo, ficou no Governo 14 anos e não aconteceu praticamente nada disso, mas cria-se essa ideia, e o agro tem receio de qualquer coisa nesse sentido.
Mas não tenha dúvida, a tendência é o Bolsonaro ganhar em Mato Grosso.
MidiaNews – Nós somos um Estado conservador?
Alfredo da Mota Menezes – A maioria do estado é conservador. Da família, religiosa. Nesse sentido de não aceitar coisas mais liberais da vida.
MidiaNews – O senhor se refere às pautas sociais como a liberação da maconha, descriminalização do aborto, fortalecimento das políticas voltadas aos LGBTQIA+, que são pouco discutidas em Mato Grosso?
Alfredo da Mota Menezes – Isso. Pouco se fala, porque o Estado conservador não dá brecha para entrar nesses assuntos. Mas não podemos esquecer que nosso Estado tem 3,5 milhões de habitantes e que, a partir daqui, havendo um ponto conservador ou não, influencia pouco fora. A influência ocorre muito mais de fora para Mato Grosso, do que ao contrário.
MidiaNews – Qual a sua avaliação do governo Bolsonaro? Houve avanços?
Alfredo da Mota Menezes – Eu vi dois Bolsonaros. O da campanha eleitoral, com pautas liberais, reformas, com discurso de abrir o Brasil na questão econômica e até pensei que seria interessante. Nessa área, não foi aquilo que se queria, nem as reformas aconteceram.
O segundo Bolsonaro tem um discurso, o tempo todo, contra urna eletrônica, Supremo Tribunal Federal, ataca ministro, outras vezes falas que nos levam a ter receio, pois são antidemocráticas… Isso cansa o Brasil.
Veja a passeata em Copacabana, que ocorreria no 7 setembro e foi suspensa. Aquilo seria a demonstração de povo e exército junto. Isso prejudica muito o Bolsonaro.
MidiaNews – A eleição presidencial está polarizada entre Lula, considerado corrupto por muitos, e Bolsonaro, considerado mau gestor por outros. Estamos em um mato sem cachorro?
Alfredo da Mota Menezes – Eu tenho um amigo que diz o seguinte: “Temos dois estrupícios como candidatos” (risos).
Nós poderíamos ter outros nomes nessa altura do campeonato. O Brasil poderia ter dois outros nomes para polarizar a eleição que não fossem Lula e Bolsonaro. Mas chegamos nisso, e o que vamos fazer?
MidiaNews – O Ciro Gomes não seria essa alternativa?
Alfredo da Mota Menezes – Seria, mas é interessante como Ciro Gomes não consegue crescer na quarta eleição. Ele tem um discurso e uma postura interessante, já foi prefeito, governador, ministro, não tem acusação de corrupção, mas não cresce.
As eleições no Brasil normalmente são polarizadas. Lembra do PSDB e PT? Mas poderia ter polarizado o Lula e o Ciro, ou o Bolsonaro e Ciro, e não ocorreu.
Mas não adianta um país que tem 33 partidos registrados no TSE, tem 24 partidos na Câmara dos Deputados, e no final, nas eleições, se polariza. E você pode ter quantos partidos forem.
Eu sou 101% contrário a esse número de partidos, tem que diminuir. O próprio congresso aprovou para acabar com as coligações, e acabando com a coligação, seria cada um por si.
E no meio do caminho eles criaram a federação, que é uma espécie de coligação. Então, o próprio país não quer diminuir os números dos partidos.
MidiaNews – A eleição está muito acirrada e uma pessoa chegou a morrer no Paraná há algumas semanas devido a intolerância política. Essas eleições serão uma das mais tensas ou perigosas do Brasil?
Alfredo da Mota Menezes – Mais do que todas. Não digo violência de matar ou deixar matar, mas eu não lembro de uma eleição tão polarizada e com receios de coisas piores.